segunda-feira, outubro 22, 2012

Com (ou sem) a sua permissão



Detalhe do quadro "O beijo" de Di Cavalcanti,

— Posso lhe roubar um beijo?

"Assim, já não é roubo" — pensou.— "Um contraponto perfeito a  Paulo. Ele teria roubado o beijo com violência. Uma violência ditada pelo desejo".

Infelizmente, não parara no desejo. O ciúme. As dores que ainda sentia da última briga antes de se separarem.

Diante dela agora estava Roberto. Tímido e romântico. Desejo contido. Amor delicado. Sem violência. Nem a do desejo. Só lhe bateria com uma flor. E pediria antes.

— Não! — respondeu brava. —Eu é que vou roubar-lhe um beijo! E mais! Vou arrancar-lhe a roupa, exigir que rasgue a minha, e rolar pelo chão, fazendo amor aqui, no meio do parque!

O rapaz olhou-a assustado, enquanto ela iniciava o estupro, ali mesmo, num domingo ensolarado, diante do olhar atônito de uma centena de passantes.


Alvaro 2006


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