segunda-feira, março 18, 2013

Fim do espetáculo



O palhaço em seu camarim coloca a peruca na caixa. 

Sob as luzes vai retirando a maquiagem, revelando um homem cansado de mais um espetáculo. De muitos. De muitas temporadas. Foram três hoje e serão três amanhã. 

Tem sido assim há trinta (quarenta?) longos anos. Ele quase só pensa em dormir. 

Quase. 

Ele ainda tem tempo de lembrar do riso e dos olhos brilhantes da menina da primeira fila da platéia. Ela ainda acreditava em magia...



domingo, março 17, 2013

Um sonho


Sonhei um dia
Em hora tardia
Que, em campo de trigo,
O sol busca abrigo.
Seu rosto encondia
E, em rubra luz,
Anunciava a noite.
Oh! Quem é que vem do poente?
Em delírio delinquente,
Vi Deusa deslumbrante
De beleza estonteante.
Juntos, Sol e Lua por um instante,
Se perdem em beijos ardentes.
Você e eu em paixão delirante,
Em abraços indecentes
Em busca de crescentes
Insistentes
Dementes
Prazeres inconscientes.
Lentamente
o Sol, imponente,
Deixa a Lua em lagrimas somente.
A Noite virá e ela apenas lamentará
Não ser como os amantes
Que agora vê galantes
triunfantes
    Tal qual infantes.

Se amando a espera da Aurora
Quando Sol novamente mostrará sua face
Oferecendo novo enlace
Aguardando que sua amada
Agora reanimada
Num instante o abrace.

sábado, março 16, 2013

Tarde em Veneza




Todas as tardes em Veneza o barqueiro navega. Todas as tardes em Veneza, você o observa. E sonha. Quem deverá acompanhá-la neste passeio? Ninguém, além do barqueiro. Você seguirá só no barco. Sentindo o sol e indo para muito além. De Veneza. Do Mundo.

O barqueiro já fez milhares de viagens naquelas águas. Nenhuma novidade mais. Apenas você que o observa e sonha. E ele também sonha. Que ele um dia a levará para além da bela Veneza, onde você e ele um dia poderão se amar.

quinta-feira, março 07, 2013

Dia da Mulher


Ele perguntou-se porque ainda existia este dia
E lembrou-se da mulheres árabes mutiladas
Das russas presas por rebeldia
Das indianas estupradas
Das Amélias agredidas
Mesmo sendo mulheres de verdade
Das adolescentes anoréxicas
Em busca de um corpo além da realidade 
E de tantas oprimidas...
Depois lembrou-se da esposa e filha
E de que sua casa não era uma ilha
Abraçou-as e chorou

Como uma mulher
Alvaro A. L.  Domingues

segunda-feira, março 04, 2013

Noite de autógrafos virtuais

Um amigo meu, o Bruno Cobbi, que eu não via há muito, me mandou um e-mail me convidando para o coquetel de lançamento de seu livro. 

No convite apenas o endereço de um site, mas não do local. Resolvi telefonar. 


– Bruno, aqui é seu amigo Álvaro. 

– Álvaro? Diga qual o seu twitter, pra eu saber de qual Álvaro se trata. 

– Deixa disso Bruno. A gente se conheceu nos eventos de FC & Fantasia e depois participamos dos encontros dos Escritores de Quinta. Sou o Pai Nerd! 

– Tá, já sei quem é. O que manda?


 – Você me mandou um convite por e-mail, pra a noite de autógrafos de seu livro, só que não mandou o endereço… 

– Ah! Por que não perguntou por e-mail? 

– Porque eu lá sei eu se você abre sua caixa postal todo dia… Diz aí onde é… 

– Conservador! O mundo agora é todo virtual! Se prestar bem atenção, tem o endereço sim, no final da mensagem. 

– Lá só há um endereço eletrônico, de um site. 

– Pois é este mesmo. É um bar virtual. Será aberta uma sala de vídeo-conferência. 

– O quê?!?! Mas é uma noite de autógrafos… Como você vai autografar os exemplares de seu livro? 

– O livro é virtual. O pessoal vai baixar o livro e eu faço uma marca digital, única e irremovível, no arquivo. 

– Tá, mas é o canapé e o vinho branco? Isso não pode faltar… 

– Ao entrar no nosso site, você recebe em sua máquina um número e uma senha. Você escolhe um link de um buffet conveniado com a editora, perto da sua casa, e eles te entregam, em até quinze minutos, vinte salgadinhos e uma garrafa de vinho branco… 

– Mas isso não vai ter a menor graça! Quero apertar sua mão, lembrar os velhos tempos, e tudo mais. 

– Na hora da vídeo-conferência, o meu webdesigner faz uma montagem do aperto de mão… 

– Continuo achando muito estranho… 

– Seja menos retrógrado rapaz… 


Continuamos nossa conversa por um ou dois minutos  e, devido a insistência do meu amigo fui à sala de chat no dia e hora marcados. Baixei seu livro autografado, pagando-o on line com meu cartão de crédito. O livro era bom, os canapés razoáveis, mas o evento foi chatíssimo. 

Alguns meses depois, recebi outro convite, desta vez pelo correio. Era uma noite de autógrafos do mesmo livro, em papel. 

Telefonei pra meu amigo: 

– Aqui é o Álvaro! Recebi seu convite, e estou ligando pra confirmar minha presença…. 

– Que bom! Vai ser um sucesso! Alguns colegas nossos dos Escritores de Quinta irão… 

– Sim, será muito bom. Mas não resisto a fazer uma pergunta. Por que lançar o livro em papel, num evento mais tradicional? 

– É que o outro editor me pagou com dinheiro virtual. E eu não consegui comprar nada real com ele…



publicado originalmente no Escritores de Quinta, 
homenageando um dos organizadores, Bruno Cobbi