Ele estava velho, mas o humanóide insistia em mantê-lo vivo. O último homem. Não era por piedade ou algum sentimento nobre. Não porque máquinas não tivessem sentimentos. O robô tinha o profundo desejo de humilhá-lo. Conhecia a arrogância do vencedor. E o prazer mórbido de dia após dia demostrar sua superioridade frente ao fraco ser humano.
— Veja minha força e inteligência superiores. A meses que não ganha uma única partida de xadrez de mim. Mal é capaz de levantar-se da cama. Velho e doente. Quantos anos tem? Setenta e cinco? Quando eu chegar a esta idade, ainda terei esta mesma aparência, a mesma vitalidade e inteligência. Eterno eu diria.
Dia após dia. Até que o velho, enfraquecido estava moribundo e o humanóide já não tinha mais prazer em humilhar aquele ser humano, fraco e quase sem vida. Foi quando nasceu em seu cérebro de positróns um novo sentimento, que ele não entendeu a princípio. Uma vaga inquietação, como se ele estivesse diante de uma pergunta sem resposta.
Durante alguns dias não disse nada ao ultimo homem. Só leva-lhe a refeição no dia, cuidava de seu conforto, regulando a temperatura do ambiente ou dava-lhe a medicação para seus inúmeros males, como se isso fosse vital não para sua vítima, mas para ele mesmo.
Um dia a pergunta tomou forma e, da boca perfeita do robô, sairam estas palavras:
— Qual é a finalidade das máquinas?
A resposta veio trêmula da boca desdentada do humano:
-- A finalidade da máquina... a razão de sua existência... é servir à humanidade.
Alvaro A. L. Domingues
Sonho da noite de 13 p/14/12/2004
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