Querido
diário,
Estou
aqui no meu quarto de castigo! Imagine só, o que tenho que fazer!
Um
trabalho sobre lagartas!
Sabe
o que é, mamãe quis um dia ser professora e acabou virando
contadora. Então ela me dá castigos como se fossem trabalhos de
escola! É chato, mas é melhor que lavar toda a louça do jantar
como minha amiga, a Aninha. E a mãe dela nem queria ser dona de
restaurante...
E
tem seu lado bom. Professora e mãe pensa tudo igual. E um dia uma
delas vai pedir isso de novo e eu já fiz.
Eu
sei que eu devia estar lendo o livro de ciências em vez de estar
escrevendo em você. Minha mãe disse que não posso sair do quarto
enquanto eu não terminar. E hoje vem a chata da Glorinha com sua mãe
mais chata ainda jantar em casa. E minha mãe acha que está me
punindo me deixando longe dela!
Você
deve estar morrendo de curiosidade, não é? Quer saber o eu aprontei
hoje para ganhar um castigo desses, não é?. Bom, mamãe tem
verdadeiro horror a estes bichos e eu sei disso. Mas eu, não! O
Bolinha diz que isso tá errado, e que meninas sempre têm medo de
bichinhos com muitas patas ou viscosos.
Não
tenho medo, nem nojo e até gosto delas. Talvez até pra ser contra o
Bolinha. Ou porque a Glorinha tenha medo delas. Foi por isso que
catei uma lagarta no jardim e levei para casa. Confesso que a minha
primeira ideia foi por o bicho no pescoço da Glorinha na sala de
aula. Mas aí fiquei com dó da futura borboleta. Tá vendo? Eu até
já sei como termina o trabalho!
Levei
a lagarta pro meu quarto e coloquei numa caixa de sapatos. Tive que
pegar algumas folhas de alface da geladeira. Uma coisa que sempre
achei chato na vida das lagartas: elas só comem verdura!
Só
que eu me esqueci que papelão um dia tinha sido verdura e a lagarta
comeu minha caixa. O Bolinha diz que não, que lagarta só come
verdura fresca. Não interessa quem fez o buraco, só sei que ela
fugiu. Procurei no meu quarto e não encontrei. Desci as escadas e
fui à sala. Era um domingo à tarde e meu pai, como de costume,
estava dormindo no sofá. A lagarta estava andando na testa dele!
Ainda meio dormindo, ele ia dar um tapa nela!
Dei
o maior berro!
– Papai!
Não mate a Clotildes!
Minha
mãe correu ver o que era. Ela, ao ver a lagarta na testa do meu pai,
deu um grito maior que o meu. Foi tão forte que alguns vizinhos
vieram acudir.
O
susto que eu dei nele, na minha mãe e nos vizinhos gerou este
castigo. A Clotildes, coitada, foi morta a chineladas. Vou colocar no
meu trabalho que é feio matar a chineladas espécies ameaçadas de
extinção.
Homenagem
à Luluzinha,
a
primeira feminista dos quadrinhos
Alvaro
A. L. Domingues 2010
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