Neste dia sua sensibilidade estava à flor da pele. Por isso se sentiu atraída pela taça de morangos que estava na mesa. Em outros dias passaria reto por ela, pegaria sua bolsa e iria trabalhar. Como o marido, que havia saído uma hora antes e deixara a taça. Como todos os dias.
Quase nunca comia os morangos, mas eles sempre estavam lá.
À espera.
Sempre havia alguns com a folhagem. Pegou um deles e pôs sobre a palma da mão esquerda. O contato com sua pele a deixou ligeiramente arrepiada. Demorou alguns segundos sentindo sua textura. O calor da sua mão aqueceu a fruta. A sensação agora era de pele, como se alguém pousasse suavemente a mão sobre a sua.
Pegou o fruto pelo cabinho e ficou olhando. Sua forma lembrava-lhe a ponta de uma língua. Lambeu-o mas o gosto não foi de um beijo. A fruta não era tão perfeita assim. Riu da sua imaginação. Depois ficou séria, contemplando o morango. Estaria cedendo ao simbolismo vulgar dos filmes eróticos? A resposta foi sim. Mas, e daí?
Lambeu novamente o morango.
Agora sim, tinha gosto de beijo. Se ela tivesse levantado mais cedo, poderia ter beijado marido antes dele sair. Mas ele iria embora de qualquer jeito, correndo apressado, preocupado com o horário.
Teria que ser mais que um beijo matinal para arrancá-lo da pressa. Sugou o morango com força. Sentiu o sabor da fruta, agora com gosto de paixão. Quanta paixão seria necessário para fazê-lo esquecer-se de suas responsabilidades? Sugou o morango com força, quase fazendo-o derreter em sua boca.
Agora sim, tinha gosto de beijo. Se ela tivesse levantado mais cedo, poderia ter beijado marido antes dele sair. Mas ele iria embora de qualquer jeito, correndo apressado, preocupado com o horário.
Teria que ser mais que um beijo matinal para arrancá-lo da pressa. Sugou o morango com força. Sentiu o sabor da fruta, agora com gosto de paixão. Quanta paixão seria necessário para fazê-lo esquecer-se de suas responsabilidades? Sugou o morango com força, quase fazendo-o derreter em sua boca.
Seria suficiente? Não! Teria que por mais paixão ainda. E se ela estivesse semi nua, vestindo apenas o robe de seda translúcido que ele lhe dera em seu aniversário? Duvido que ele resistisse.
E ela? Uma parte sua estava lhe gritando: "é tarde!". Seu senso de responsabilidade quase a fez largar os morangos no chão. Precisava silenciá-lo. Agora! Despiu-se ali, jogando suas roupas no chão. E ficou olhando a taça de morango, à espera do sentimento erótico retornar.
Não demorou muito e cada morango virou uma carícia diferente, percorrendo seu corpo, como se fossem, os dedos, os lábios e a língua de seu marido.
Cheia de tesão ligou para ele, pedindo que voltasse urgente para casa. Despiu-se, colocou os morangos em uma taça especial, e ficou.
À espera.
Alvaro 2007
fotos 1 e 2, sem autoria
foto 3 (detalhe) - Ramarago
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