Uma Cinderela bem mais ousada |
O
grande baile prometido pelo Príncipe aconteceria naquela noite. Como
sempre, a Madrasta pedira a Cinderela para limpar a casa, enquanto
ela e suas filhas passariam a tarde toda e parte da noite fazendo
compras e divertindo-se na cidade.
Quando
as três saíram, a moça ficou sozinha, tendo por companhia o velho
relógio de pêndulo com seu monótono tic
tac
e as batidas de hora em hora. Era quando estava muito só que sentia
mais falta do pai, mas ao mesmo tempo desejava-o longe dali e daquela
mulher falsa e fingida. Toda doçura na sua frente, mas ria-se dele
na companhia de um de seus amantes quando ele estava longe.
Detestava-a
e mais ainda seus homens, principalmente um deles, que vinha com
maior frequência, cheio de galanteios para com sua madrasta, mas na
realidade interessado na carne mais jovem de suas irmãs.
Elas, mal a
mãe virava as costas, ficavam se insinuando para ele, permitindo que
as bolinasse. Um dia ele se aproximou dela, cheio de desejo.
Cinderela não suportou seu modo grosseiro e seu cheiro de vinho
azedo. Mas ele insistia e deseja mais que simples bolinação.
Sua
rejeição lhe custou caro. Ele a agrediu com tapa no rosto e em
seguida mentiu para sua Madrasta que ela o tentara seduzir. Seu
castigou foi severo. Sua Madrasta lhe bateu com a mão espalmada nas
nádegas, como se ela fosse uma criança, diante de suas irmãs que
ficaram rindo dela.
Depois
da humilhação, uma de suas irmãs lhe disse:
– Garota,
você perdeu uma chance de ouro! Nós deixamos o velhote fazer o que
quiser e depois o chantageamos! E ele não é de nada! O negócio
dele nem sobe direito!
Mas
agora estava sozinha. E para ela a solidão era uma benção. O
trabalho normalmente preenchia todo o seu tempo e nunca estava bom e
sempre tinha que refazer duas ou três vezes o mesmo serviço.
Observando isso, ela percebeu: se ela teria que fazer tudo novamente,
por que fazê-lo? Largou imediatamente o balde e a vassoura e
rodopiou como se estivesse dançando. Dançando? Lembrou-se então do
príncipe e entristeceu. Como gostaria de estar no baile! Havia um
boato de que o príncipe escolheria a noiva entre todas que
estivessem presente. Sorriu. Seu pai sempre lhe dissera que quem tem
imaginação, tem tudo.
Imaginaria
então. Esposa do príncipe? Nem pensar. Sabia que era bonita, mas o
baile, mesmo em sua imaginação, era algo demais para ela. “Mas, a
imaginação não tem limites! Nem físicos, nem temporais, nem
econômicos”, teria dito seu pai. E nem morais! Acrescentou por
conta própria. Será que seu pai ficaria triste com o que estava
prestes a imaginar? Não. Ele talvez tivesse rido e depois lhe
aconselharia a não realizar sua fantasia e, cúmplice, piscaria um
olho.
Começou
a sonhar, então. Fugiria de casa hoje mesmo. Iria até o palácio
real e tentaria se empregar como faxineira. Tinha vasta experiência
e passaria em qualquer teste. Haveria um exército delas, mas ela
chegaria justamente no dia em que mãe do príncipe, num repente de
raiva, teria mandado todas elas embora. A dedicação seria muita e
ela teria que trabalhar até altas horas da noite naquele palácio
enorme.
Um
dia muito quente, quando ela segura de que ninguém a veria, alta
madrugada, ela se despiria e esfregaria o chão, nua, com uma escova
na mão.
E
por que não tirar a roupa agora e tornar seu sonho mais real? Elas
não viriam tão cedo. Ela hesitou um pouco. O tic
tac
do relógio parecia sincronizado com o seu respirar cada vez mais
profundo, sublinhando seu desejo.
Após
longos dois minutos, sua roupa foi quase que arrancada por suas mãos
ávidas. Correu olhar-se no espelho grande que havia num dos quartos.
Nunca se vira assim nua, de corpo inteiro num espelho. Como ela se
sentiu bela! Um homem, mesmo um que fosse um Príncipe teria muitos
motivos para desejá-la.
Abraçou-se.
Era ela e o Príncipe. Voltou a imaginar-se esfregando o chão,
distraída. Ficou de quadro com as nádegas voltadas para o espelho,
olhando a imagem que o príncipe veria. Uma tentação...
Ele
seria ousado? Não haveria ninguém olhando e, tímido inicialmente
passaria a mão em sua bunda. Isso seria sinal de timidez? Riu ao
perceber a inconsistência de sua história. Imaginou então ele
observando à distância, morto de desejo, lutando contra seus
princípios morais antes de fazê-lo e recolhendo mão rapidamente,
ao perceber o susto da moça.
Ela
acariciou suas nádegas. Sentiu sua pela lisa e aveludada e a firmeza
de seus músculos. Pôs o dedo do meio entre as duas metades.
Imaginou o dedo dele, pronto para entrar em seu ânus, mas ainda
relutante. O desejo contido e pronto para explodir dele, ainda que
imaginário, a excitava muito. O que faria se fosse verdade? O desejo
dela crescia a cada tic
tac
do relógio da sala, ainda audível naquele quarto. Ela se ergueria e
o beijaria, enquanto procurava libertar-lhe o pênis.
O
seu beijo seria nele agora. Sugou seu próprio dedo, imaginando o
gosto. Depois levou a sua mão ao delta de Vênus, imaginando a
penetração. Não tão imediata. O príncipe seria delicado e ousado
ao mesmo tempo, buscando não só obter como dar-lhe o maior prazer
possível. Não haveria limites, pois todas as barreiras teriam
caído. Não haveria tabu. Ambos gozariam muitas vezes. Terminariam a
noite, exaustos, mas ainda desejosos um do outro.
E
o baile que se danasse...
De
repente, ela percebeu que não estava sozinha. Tomou um susto ao
sentir a entrada de alguém sorrateiro naquele aposento. Tentou
esconder como pode o seu corpo antes de virar o rosto e ver quem era.
O
que viu foi uma mulher pequena de cerca de um palmo de altura com
asas nas costas esvoaçando ao seu redor. A sua reação foi de
alívio num primeiro momento já que não era o pior caso: a sua
madrasta ou uma de suas irmãs. Mas a seguir olhou aquele ser com um
misto de curiosidade e medo. Mas não se preocupou em esconder mais
seu corpo, já que o ser era uma entidade feminina com pouquíssima
roupa.
– Não
me tema, princesa! – disse a entidade.
– Não
sou princesa! – respondeu a moça. – Sou apenas uma criada desta
casa. E você, quem é?
– É
princesa sim! Todas nós somos de algum jeito princesas. E estou aqui
para provar-lhe isto. Sou sua fada madrinha. Vim aqui lhe ajudar a se
descobrir e posso lhe conceder todos os desejos que quiser.
Cinderela
esfregou as mãos de satisfação e exclamou:
– Puxa
vida! Tudo que eu quiser...
Cinderela
ficou pensativa um pouco e continuou:
– Mas,
não sei o que pedir...
A
fada olhou-a reprovação e disse:
– Há
um pouquinho só atrás você sabia exatamente o que queria. E foi o
seu desejo que me atraiu.
– Nossa!
Fadas são tão liberais! A minha madrinha humana não teria aprovado
meu querer...
– Ela
não teve o que desejava na hora certa e deixou que seu sexo
azedasse! Parece que ninguém nesta família tem uma sexualidade
saudável! Sua madrasta e suas irmãs usam o sexo como moeda de
troca. Seu pai parece que prefere viajar a transar com aquela megera.
Tomara que ele tenha um amante por aí.
– Não
fale assim de meu pai! Ele é um bom homem!
– Tem
razão! E ele é um tesão. Se eu tivesse mais altura, até que eu
topava.
Cinderela
riu e comentou:
– Um
metro e meio a mais!
– Se
eu tivesse um metro e meio a mais e transasse com seu pai, me
aceitaria como madrasta?
– Claro!
Eu acho que meu pai seria mais feliz e não viajaria tanto.
– Você
acabou de entrar no espírito da coisa. Eu sou a fada madrinha que
realiza seus desejos sensuais. E antes que você pense algo errado,
não vou transformar o gato num homem gostosão pra você transar com
ele.
– E
o que você faz então? Cresce e transa comigo?
– Pronto!
Pensou errado. Eu não tenho esse poder. Se eu tivesse até que não
seria má ideia. Mas vim aqui para realizar os seus desejos e não os
meus. Está pronta?
– Eu
tô morrendo de tesão.
– É
um bom começo. Mas vamos por partes. Nua você é uma graça. Mas
vestida, você não ganha nem o olhar do cavalariço do príncipe.
– Que
posso fazer, se não tenho roupas boas?
– Nisso
eu posso dar um jeito. Que tal um vestido vermelho, com um decote bem
generoso, pra deixar seu par na dança babando?
Um
gesto da fada e lá estava ela com um belo vestido. Cinderela
olhou-se no espelho se admirando e radiante de felicidade.
– Espere
um pouco, – disse a fada madrinha, fazendo um gesto mágico –
vamos ousar um pouco mais, dando-lhe transparência. Afinal ele tem
que perceber que você não está usando nada por baixo.
– Mas
isso não chocaria as pessoas?
– É
claro. Mas se você não conseguir transar com ninguém, mesmo assim
todo mundo vai falar de você. Mas... vamos ser prudentes. Só quem
você permitir verá através do vestido. Assim, você acenderá o
desejo de quem quiser. Não use este recurso logo no começo,
transforme isso num trunfo.
– Nossa,
me sinto nua com ele!
– Está
perfeito então. Agora os sapatos. Dignos de você. Não serão de
cristal, pois seus pobres pés sofreriam com eles. Mas são
igualmente transparentes, ao seu bel desejo. Sabia que tem homem
fissurado em pés?
A
moça vestiu os sapatos e voltou a olhar-se no espelho.
– Nossa,
como são confortáveis! Poderia dançar com eles até o sol raiar!
– Nada
disso! Terá que voltar antes da meia noite!
– Nossa!
Regras bobas! Até parece meu pai!
– Não
é uma proibição. É que a meia noite acaba o alcance do encanto.
– E
o que acontecerá a meia noite?
– Este
belo vestido e tudo que eu vou lhe dar desaparece. Se você ficar nua
no meio do baile aí sim a coisa pega. Em vez de ir pra cama do
príncipe, vai pro calabouço!
– Então,
se eu já estiver na cama com ele, não preciso voltar pra casa!
– Esperta
a menina. Então boa sorte. Agora o veículo. Uma carruagem puxada
por dois cavalos e um cocheiro.
Com
um gesto transformou uma abobora na tal da carruagem. Dentro do
quarto.
– Perfeito!
Uma carruagem dentro do quarto de minha madrasta. E agora, como faço?
– protestou Cinderela
– Desculpe,
querida.
Um
gesto e a carruagem e os cavalos foram para o jardim.
– Aquele
cocheiro bonitão é real? – perguntou Cinderela
– Por
algum acaso está pensando em usá-lo como um quebra galho?
Infelizmente, como tudo aqui, é uma ilusão que se desfará quando
for meia noite.
– Que
pena! Mas elas estão pra chegar a qualquer momento! E se elas virem
a carruagem?
– Não
se preocupe. Como eu disse, tudo é ilusão. Por enquanto só você
vê aquelas coisas. Pra elas, é só uma abóbora abandonada no
jardim, que, aliás, mandarão você catar. Mas de qualquer forma, é
bom você se vestir os seus velhos trapos. Não pega bem você pelada
ou com um vestido de baile no quarto de sua madrasta.
Um
burburinho de gente chegando e seu nome gritado por todas as três ao
mesmo tempo.
A
fada madrinha disse-lhe:
– Rápido!
Vou lhe vestir com seus andrajos de sempre. E tirá-la daqui. Vou
colocá-la no corredor dos quartos. E corra atender ao chamado.
A
Madrasta, como o previsto, reclamou de tudo:
– Cinderela!
Ainda aqui no corredor de cima? O que você andou fazendo o dia
inteiro? Aposto que sonhou acordada com o baile de hoje à noite! E
essa abóbora no meio do caminho? Como ele foi parar lá? Quero ela
fora do caminho quando eu voltar!
Mesmo
sabendo qual seria a resposta, Cinderela ousou perguntar:
– Se
eu arrumar tudo rapidinho, posso ir ao baile?
A
madrasta deu um largo sorriso:
– Com
que roupa minha menina? Esses trapos?
– Mas
meu pai trouxe tecidos...
– Mal
deram pros nossos! Aquele pão duro! Não pensa em mim e nas minhas
meninas!
E,
subindo as escadas, continuou falando:
– Além
disso, seu serviço está péssimo. Vai ter que fazer tudo outra vez
e não vai lhe sobrar tempo nenhum para ir a um baile.
Normalmente
Cinderela teria chorado, mas hoje ela sabia que tinha um proteção
extra e apenas fingiu, pois este era o comportamento esperado pela
Madrasta.
Assim
que a Madrasta foi embora, a fada reapareceu:
– Vamos
continuar nossa conversa, querida. Eu lhe aviso quando ela estiver
voltando para você fingir que está esfregando o chão.
Cinderela
sorriu, satisfeita.
– Aliás,–
continuou a fada – isso me lembra uma coisa: sua fantasia erótica.
Cinderela
corou e perguntou:
– Foi
errado fantasiar daquele jeito?
– Sim,
mas não pela ousadia sexual e, sim, pela falta dela.
– Falta?
– Sim!
Você ainda se imagina uma faxineira. Se o príncipe lhe comesse
daquele jeito, quando passasse o tesão, ele lhe poria pra fora do
palácio. Este foi a “bom exemplo” que rei Jorge deu a seu
herdeiro. Quanta faxineira do palácio eu ajudei a por fora das
garras do velho rei tarado!
– Isso
me preocupa, madrinha. O príncipe é desse jeito?
– Não
se sabe. A rainha o colocou longe das mulheres jovens, com medo de
que ele fosse como o pai e a coroa fosse parar na cabeça dum neto
bastardo. E o rei estava mais preocupado em comer faxineiras do que
em dar alguma educação sexual e sentimental a seu filho. Eu
imagino, como você, que ele é muito tímido e nem saberia o que
fazer com uma mulher nua no colo. Se ele soubesse, ninguém pensaria
em promover um baile para achar uma noiva pra ele.
Cinderela
corou de novo, riu discretamente e perguntou:
– E
o que está errado então na minha fantasia?
– Simples.
Tire da sua cabeça que somente casar com um príncipe vai lhe fazer
feliz para sempre. E não se coloque abaixo dele. Você não é uma
faxineira! Se é pra fantasiar, deveria ter fantasiado que você era
uma rainha de terras distantes, ou que era fugitiva do harém de um
sheik árabe que a sequestrara, ou a filha do rei de um exército
invasor, sei lá!
– Gostei dessa última! Vou ser a filha de um rei prestes a nos invadir! – gritou Cinderela, batendo palmas de excitação. – E meu pai só recolherá seu exército se o príncipe me satisfizer.
– Gostei dessa última! Vou ser a filha de um rei prestes a nos invadir! – gritou Cinderela, batendo palmas de excitação. – E meu pai só recolherá seu exército se o príncipe me satisfizer.
– Seu
pedido é uma ordem, princesa. Neste exato instante está chegando
uma mensagem ao palácio real, com uma ameaça de invasão do Rei de
Nowhere. Os conselheiros militares do rei levarão um século para
descobrir que Nowhere é Lugar Nenhum! E que ele mandará sua única
filha como emissária para uma negociação. E a proposta desta
negociação só será entregue ao príncipe a sós. Daí pra frente
fica por sua conta. E prometo, que mesmo que eu morra de curiosidade,
não vou olhar.
– E
como ele vai saber como que sou eu a princesa?
– A
mensagem vai dizer que é a mais bonita do baile e estará usando um
ousado vestido vermelho. E, para quebrar seu galho, coloco que o
acordo deve ser fechado antes da meia noite!
Um
ruído chamou sua atenção e ela falou um apelo de urgência:
– Apresse-se,
finja que está limpando o chão. Madrasta já está vindo!
A
mulher desceu as escadas, acompanhada pelas duas filhas, vestidas
para o baile. Ao passar por ela cada uma fez um comentário:
– Pena
que o chão não ficou pronto!
– Pena
que ela não tem um vestido novo!
– Pena
que não tem como ir ao baile!
Cinderela
se segurou para não rir. Quando a porta se fechou, a fada sussurrou:
– Vamos
rápido.
O
vestido vermelho brilhante, com um pronunciado decote que mostrava
quase completamente o belo par de seios de Cinderela, foi colocado
magicamente. A fada sabia muito bem o que estava fazendo. Ajustando
os últimos detalhes, disse:
– Vamos
agora treinar a transparência: de nada a tudo. É só pensar. Sugiro
que use um pouquinho de transparência na entrada e muita no final do
baile.
Cinderela
foi variando as nuances até o vestido ficar completamente
transparente, quase invisível.
– Guarde
este gran
finale
para o quarto – aconselhou a fada. – Vá agora. A carruagem a
espera.
Cinderela
começou a andar em direção à saída, mas a fada a interrompeu:
– Espere!
E,
fazendo um gesto mágico, disse:
– Antes
de partir, aqui vai mais um pouco de magia!
Cinderela
olhou para si mesma a procura de algo, mas não encontrou mais nada e
perguntou:
– O
que foi que você me deu?
– Apenas
um pouco mais de malícia e ousadia – respondeu a madrinha. –
São qualidades que você já tem, mas só na imaginação. É
preciso as por em prática. Vão existir momentos em que elas serão
extremamente necessárias.
Cinderela
entrou na carruagem e, durante o caminho para o palácio, ficou
pensando na transformação pela qual estava passando. Como havia
mudado! De uma moça tímida, maltratada, sem perspectiva, passara a
uma princesa poderosa! E de uma menina bem comportada, passara a uma
mulher ousada, pronta pra seduzir o príncipe de seu reino! Estaria
sonhando? Beliscou-se. Um ai mostrou que não.
A
sua entrada no baile foi triunfante. Seguiu a sugestão da madrinha:
usou pouca transparência. Ao colocar os pés no salão, aos poucos
todos param e a admiram. Os homens de queijo caído e as mulheres com
ciúme e raiva.
Não
sabia muito que fazer e perguntou ao mestre de cerimônias onde
poderia se acomodar. Ele lhe indicou uma das mesas vagas. Mal ela se
sentou, se viu cercada de cavalheiros, cheios de gentilezas sob o
olhar enfurecido das outras damas abandonadas. Entre elas, viu a
madrasta e suas filhas, com ar de desprezo. Aumentou ligeiramente a
transparência do vestido mágico e pode sentir o efeito de choque
nas três. E ela não tinha nem chegado a um quarto da transparência!
O
baile transcorria normalmente. Dançara com muitos cavalheiros e se
divertia vendo-os tentar conter seu desejo e mostrar elegância, com
galanteios os mais variados. Mas aos poucos foi percebendo uma
ausência: o príncipe.
Isso
a aborreceu e decidiu sair do salão e ir para o jardim. Custou a se
livrar dos cavalheiros insistentes que queriam a todo custo dançar
com ela ou acompanhá-la no seu passeio. Afinal era noite e, segundo
eles, necessitava de proteção, pois os archotes lá de fora não
davam uma boa iluminação.
Andou
algum tempo, e encontrou um lugar, um jardim de rosas, com um banco
de pedra e começou a pensar em tudo o que estava lhe acontecendo.
Lembrou-se das palavras da fada: Tire
da sua cabeça que somente casar com um príncipe vai lhe fazer feliz
para sempre.
Bom, até lembrar-se do príncipe, tudo estava divertido. Por que
então esperar por ele? Decidiu continuar se divertindo até a meia
noite e esquecer do príncipe. Mas diversão não era só dançar.
Podia dar mesmo uma volta e ver as flores e estrelas naquele jardim
maravilhoso.
Andou
alguns minutos, deliciando-se com cada um dos canteiros todos muito
bem organizados por conjunto de flores. Foi quando notou um trecho
onde haviam preservado um pedaço do bosque original, com uma mistura
de cores e cheiros que ultrapassava a beleza que vira até então. As
flores pareciam ter se arranjado da melhor forma possível para lhe
agradar
Neste
pequeno bosque havia uma clareira e, no seu centro, um banco de
pedra. Ao seu redor do banco, um círculo perfeito de cogumelos. No
princípio estranhou a perfeição achando ser obra da mão humana.
Lembrou-se então do pai, que lhe contara do círculo das fadas, um
lugar onde elas se reúnem após a meia noite. Pena. Poderia esperar
para vê-las aparecer, mas não teria graça nenhuma ficar pelada no
jardim e ter que fugir à pé neste estado. Se bem que alguma delas
poderia lhe dar alguma roupa, ponderou, mas não quis se arriscar.
Entrou
no círculo e sentou-se no banco. Ficou algum tempo meditando, quando
surgiu um belo rapaz. Seus olhares se cruzaram e ela sentiu que um
calor percorrendo seu corpo a partir da região pubiana e por fim
corando-lhe as faces.
O
rapaz entrou no círculo, com um ar sério, diferente dos outros
todo-sorridentes cavalheiros, e disse:
– Estava
à sua procura.
– Posso
saber por quê? – perguntou a moça, olhando o rapaz de cima a
baixo.
Ela
viu belo exemplar do sexo masculino, alto, loiro, com traços que
denotavam firmeza, apesar de serem suaves, denunciando sua pouca
idade. Vestia uma espécie de farda vermelha de gala, como se fosse
um militar. Cinderela avaliou que tinha pouco mais de dezoito anos e
tentava parecer mais velho, como se tentasse passar autoridade.
Talvez não fosse nenhuma autoridade, mas insistia em tentar
intimidá-la. Isso ficou acentuado no tom impostado de voz que usava
para lhe dirigir a palavra:
– Ordens
do príncipe.
Cinderela
instintivamente aumentou um pouco a transparência do vestido.
Perceptivelmente, as pupilas do jovem dilataram-se.
– Posso
saber por que o príncipe quer me encontrar? – perguntou a moça,
num tom bem macio.
O
rapaz reposicionou os ombros tentando parecer maior do que era.
– Na
verdade, não. Tenho apenas ordens de levá-la ao quarto dele.
Cinderela
se levantou e se aproximou dele e disse, aumentando um tiquinho o tom
de voz:
– E
você acha que eu não sei?
E,
com mais ênfase, continuou:
– Pensei
que o baile era pra ele arrumar uma esposa e não uma amante!
O
rapaz respondeu indignado:
– Como
ousa pensar isso do nosso príncipe! Não é nada disso!
Cinderela,
agora visivelmente zangada, mas sem perder a classe, retrucou:
– Pois
sim! Se você quiser me levar, terá que ser à força e gritarei a
plenos pulmões: o príncipe é brocha!
O
rapaz sorriu e disse com ironia:
– Não,
se estiver amarrada e amordaçada.
Cinderela
percebeu que alguma coisa estava mudando e, mantendo a firmeza, e
disse com um leve tom de deboche, mas mais macio:
– O
príncipe tem essa tara, então?
Contrariando
suas expectativas, o rapaz riu e disse:
– Bem
que achei que você seria dura na queda. Olha, com sinceridade, o
príncipe não tem tara nenhuma. Aliás, nunca transou, nem com as
faxineiras!
Cinderela
ficou enfezada e, com as mãos na cintura, indagou:
– E
o que você tem contra as faxineiras?
– Eu?
Nada! O rei as adora. Por isso falei delas – respondeu o rapaz,
baixando os olhos, evitando fitar os dela.
Cinderela
percebeu que havia tomado controle. Aumentou um tiquinho mais a
transparência e se aproximou mais colocando seu rosto bem perto do
dele.
– E
seu for uma faxineira disfarçada? – disse ela, acariciando-lhe os
cabelos.
O
rapaz ruborizou. Antes que ele esboçasse uma resposta, Cinderela
aproximou-se colocando seus lábios muito próximos dos dele. Ele
tentou recuar, retesando seu corpo e afastando um pouco. Ela sorriu,
colocou as mãos em sua nuca e entreabriu os lábios. O rapaz podia
sentir a respiração da moça. A dele começou a acompanhar o ritmo
da dela. Cinderela pode perceber que ele relaxava e, com a ponta da
língua, deu um leve toque nos lábios dele. Delicadamente ele cedeu
e permitiu suas carícias. Ao perceber que ele relaxara, Cinderela
mordeu levemente o lábio superior do jovem, arrancando um suspiro
mais profundo. O beijo foi se tornando mais cálido, aumentando os
batimentos do coração de cada um deles, até que ficassem ritmados
em sincronia.
A
excitação estava crescendo, mas ainda havia algumas barreiras a
vencer. A maneira como ele estava agindo denunciava seus medos. Ela
sentiu que havia uma ingenuidade muito semelhante à sua, além do
senso de dever e do medo de ser descoberto, atrapalhando. O príncipe
devia ser um imbecil. Mandara um menino fazer o trabalho de um homem.
Pena que seu emissário não tinha uma fada madrinha que pelo menos
atenuasse o medo justamente de se entregar ao desejo!
Cinderela
ponderou a respeito do comportamento do príncipe. Se ele usara o
rapaz para fazer o serviço por ele, bem que merecia que seu
emissário fosse muito além do cumprimento do dever! Percebeu que
teria que jogar fora o resto do pudor que ainda mantinha e quebrar a
resistência do rapaz. Pegou delicadamente a mão dele e levou-a a
seus seios.
Inicialmente
ele recuou, hesitante. A ingenuidade dele aumentava a excitação
dela. A respiração aumentou um pouco seu ritmo. Ele acompanhou.
Desta vez, a iniciativa foi dele e, lentamente, vencendo sua
hesitação, foi acariciando, invadindo o decote até encontrar seu
mamilo. Acariciou-o delicadamente, sentindo em seus dedos a sua forma
e firmeza. Cinderela sentiu que sua razão, que até então
comandara, estava indo embora. A emoção e o desejo estavam
mandando. Decidiu entregar-se a eles. O príncipe mimadinho que se
fodesse.
Tocou
levemente entre as pernas do rapaz e sentiu seu pênis excitado. Ao
ser tocado ele apertou seu seio com um pouco mais de força, mas
ainda delicadamente, e deu-lhe um beijo um pouco mais tórrido,
penetrando a língua em sua boca, denuncinado suas intenções. A
resposta da moça foi abrir a braguilha e libertar o membro do rapaz.
Sentiu-o latejante em sua mão e desejou ardentemente sugá-lo. Foi o
que fez. O rapaz gemeu de prazer. Ela sempre se imaginara fazendo
isso, mas nunca pensara como isso seria tão delicioso. Entregou-se a
este prazer e sentiu intensificar o calor na região pubiana. Logo
cederia totalmente, bastando um toque do rapaz para ela se livrar do
vestido. O rapaz a afastou um pouco e olhou seu rosto. Um outro beijo
quente e suas mão começaram a despi-la. Ela retribuiu retirando a
camisa e a calça dele. Ambos nus e excitados rolaram pela grama.
Ele deu-leu outro beijo desta vez não na sua boca. Seus lábios
encontram seu clitóris e o sugaram. Sua língua a penetrou,
antecipando o que viria em seguida.
No
auge da excitação, ambos ouviram sons. Não passos, mas de asas,
como de libélulas. “Fadas!”, pensou Cinderela. “Meu Deus! É
meia noite!”
As
fadas esvoaçavam em torno deles, rindo e cantando, felizes. Uma
delas se aproximou de Cinderela e disse:
– Continuem!
Estava tão bonito!
O
rapaz estava atônito. Várias fadas o cercavam e o olhavam com
curiosidade. Uma delas disse:
– É
raro ver um homem neste jardim. E mais raro ainda um que consegue nos
ver!
Cinderela,
lamentando ter sido interrompida no melhor da festa, procurou pelo
vestido para fugir dali... mas, cadê? Ele havia desaparecido!
Uma
das fadas falou:
– Desculpe-nos
a interrupção, mas é que vocês estavam no nosso espaço. Teríamos
expulsado-os, mas vocês estão sob a proteção mágica de uma de
nós.
Cinderela, constrangida, tentando esconder seu corpo com as mãos,disse desesperada:
Cinderela, constrangida, tentando esconder seu corpo com as mãos,disse desesperada:
– Mas
o encantamento acabou. Meu vestido até sumiu!
A
fada riu e argumentou:
– Você,
com este corpo maravilhoso, não precisa de nenhuma roupa.
O
rapaz, até então calado de espanto (não é todo dia que se fadas
por aí),se manifestou:
– Mas
depois do que quase fizemos (o “quase” graças a vocês!),
corremos riscos!
A
fada adotou um ar sério:
– Não
se preocupem! Nós percebemos o perigo, por isso nós nos fizemos
visíveis! Daremos um jeito para que vocês fujam daqui e possam
continuar o que estavam fazendo em paz. Quanto à interrupção, nos
desculpe. Tínhamos que fazê-lo. A ronda dos guardas está quase
chegando a este ponto do bosque. E sentimos que não seria bom eles
pegarem vocês em flagrante. Vocês humanos são tão complicados
quanto a essa parte da vida!
Dito
isso ela, num gesto mágico, vestiu os dois como camponeses e fez
aparecer uma carroça puxada por dois cavalos , carregada com feno. A
fada, dirigindo-se ao rapaz, disse:
– Os
guardas do palácio estão encantados e não o reconhecerão. A palha
é bem macia e fornece um bom esconderijo. Você conduzirá a carroça
e ela se ocultará no feno. Há alguns quilômetros daqui, vocês
poderão parar e continuar o que estavam fazendo. O feno é bem
melhor que este chão pra isso. Gostaríamos de acompanhá-los e
assistir a seus jogos, mas temos que fazer o ritual noturno.
Eles
se olharam e ela riu. Ele, mais relaxado, riu também.
Seguiram
as instruções das fadas e abandonaram o palácio. Passaram fácil
pelos guardas. A uma distância segura, ela saiu do feno e foi à
boléia da carruagem. Assim que ela subiu, ele perguntou:
– Percebi
que você é virgem. Por acaso não estava se guardando pro príncipe,
estava?
Ela
parou para pensar e respondeu:
– Sim...
e não! Na realidade, eu só tinha ele como modelo de homem para
fantasiar!
E,
apalpando-lhe o pênis , continuou:
– Não
sabia que existiam homens tão gostosos!
Na
manhã seguinte, o reino amanheceu em confusão. Arautos por todos os
lados e cartazes anunciavam o desaparecimento do príncipe herdeiro,
provavelmente sequestrado durante o baile. Testemunhas afirmavam que
uma mulher também desaparecera, sendo a provável líder do
sequestro, espiã de um reino estrangeiro. A única pista que tinham
era um pé de sapato feminino encontrado numa carroça de feno.
Álvaro A. L. Domingues 2012
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